Instabilidade da articulação radio-ulnar distal

Instabilidade da articulação radio-ulnar distal é algo que muitas vezes não recebe a atenção necessária e o tratamento adequado. Muitas vezes é subestimada, mas pode ser muito sintomática e trazer prejuízos funcionais importantes.

É um dos diagnósticos possíveis quando o paciente apresenta dor na borda ulnar do punho.

Anatomia

A articulação radio-ulnar distal está localizada no punho e, como o próprio nome diz, é uma articulação existente entre o radio e a ulna (figura).

O movimento dessa articulação é principalmente rotacional, embora também haja componentes de movimento axial e translacional:

• Quando nos referimos ao movimento rotacional, estamos falando da pronossupinação,  isto é, virar a palma da mão para cima e para baixo.
• Na pronação (palma da mão para baixo), observamos que, relativamente ao radio, a ulna fica mais longa – este é o componente axial da mobilidade da articulação radio-ulnar distal.
• Na supinação (palma da mão para cima), a ulna tem um certo deslocamento volar (na mesma direção da palma da mão) em relação ao radio e durante a pronação, há um certo deslocamento dorsal da ulna em relação ao rádio – este é o componente translacional.  Conseguimos observar isso em nós mesmo – veja que quando sua palma da mão está virada para o chão, a cabeça da ulna fica mais proeminente.

A estabilidade da articulação radio-ulnar distal é dada pelo formato dos ossos, que pode variar de indivíduo para indivíduo, e por “partes moles”.  Dentre as “partes moles”, o complexo da fibrocartilagem triangular tem o papel mais importante.

O que causa instabilidade da articulação radio-ulnar distal?

Muitas vezes ocorre por trauma no punho (força axial e rotacional) e pode ocorrer também devido a problemas reumatológicos.

(*importante destacar que algumas pessoas possuem certo grau de instabilidade “constitucional” da articulação radio-ulnar distal, sem que isso seja um problema ou cause sintomas).

A instabilidade da articulação radio-ulnar distal pode ter sua origem em lesões de partes moles (são principalmente representadas por lesões da fibrocartilagem triangular)  ou também a causa principal ser relacionada a fraturas associadas (como algumas fraturas do estiloide da ulna, Galeazzi e  Essex Lopresti, por exemplo).

Sintomas

A queixa mais comum é a de dor na borda ulnar do punho, a dor pode chegar a restringir muito as atividades do paciente, dependendo do grau de instabilidade.

A dor costuma ser exacerbada durante os movimentos de rotação (pronossupinação = virar a palma da mão para cima e para baixo) e também pode haver restrição desse movimento (a supinação costuma ser mais afetada e o paciente pode não conseguir virar a palma da mão para cima completamente).

Alguns pacientes se queixam também de perda de força, que é muitas vezes gerada pela dor.

É muito importante que a avaliação seja feita por um médico especialista, que fará testes específicos. Além disso, o exame físico deve ser sempre comparativo – o lado não lesado deve ser examinado como parâmetro, isto porque algumas pessoas possuem uma certa “frouxidão”, ou seja, pode não se tratar de uma instabilidade patológica.

No caso das instabilidades dorsais, que são as mais comuns, a cabeça da ulna tende a ficar muito proeminente durante a pronação. O paciente pode também sentir um estalido durante o movimento.

Exames de imagem

Os exames podem variar dependendo da causa primária que gerou a instabilidade.

A tomografia é o exame que oferece a melhor visualização para diagnosticar instabilidade da articulação radio-ulnar distal e o exame também deve ser feito de forma comparativa. As imagens devem ser de ambos os punhos em pronação, em supinação e em rotação neutra.

Muitas vezes precisamos avaliar a fibrocartilagem triangular e o exame de imagem escolhido para isso costuma ser a ressonância magnética. (Vale destacar que a artroscopia é o melhor método para avaliação da fibrocartilagem triangular e  de outras lesões ligamentares)

RX também é utilizado. E apesar da queixa ser no punho, a depender da causa da instabilidade, precisamos avaliar o antebraço e o cotovelo.

Tratamento

Tratamento não cirúrgico costuma ser ineficiente e a técnica cirúrgica a ser utilizada pode variar muito e vai depender do que causa a instabilidade e se há ou não artrose da articulação.

Por exemplo, quando a instabilidade da articulação radio-ulnar distal teve como causa lesão da fibrocartilagem triangular, indicamos reinserção da fibrocartilagem usando-se uma âncora. Geralmente optamos por procedimentos artroscópicos. A técnica usada pode mudar dependendo do tempo da lesão.

Já quando a instabilidade foi decorrente de uma fratura do radio (Galeazzi) que não consolidou na posição adequada, o tratamento será feito com osteotomia e fixação do osso (radio) com placa e parafusos. (o osso será cortado / “quebrado” através do uso de uma micro serra, colocado na posição adequada, com as angulações corretas e a posição ficará mantida pela placa).

Importante: Todo tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. O Núcleo de Ortopedia Especializada possui especialistas renomados em todas as áreas da Ortopedia moderna. Consulte um ortopedista especialista em mãos.

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Referências:
Green’s Operative Hand Surgery 7th edition

Spies, C. K., Langer, M., Müller, L. P., Oppermann, J., & Unglaub, F. (2020). Distal radioulnar joint instability: current concepts of treatment. Archives of Orthopaedic and Trauma Surgery. doi:10.1007/s00402-020-03371-0

Haugstvedt, J. R., Langer, M. F., & Berger, R. A. (2017). Distal radioulnar joint: functional anatomy, including pathomechanics. Journal of Hand Surgery (European Volume), 42(4), 338–345.

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